Conversando com colegas conselheiros, percebo que uma preocupação em comum entre todos é que os boards não estão conseguindo dedicar tempo e atenção suficiente para os grandes temas estratégicos que envolvem o futuro e a perenidade da empresa. Temas como finanças, contabilidade, jurídico, compliance e riscos acabam tomando boa parte da agenda. Por outro lado, assuntos como transformação digital, tecnologias disruptivas, inovação e CVC acabam tendo pouco espaço nos boards, além de exigirem expertise que, na maioria das vezes, não está no perfil clássico do conselheiro.
Para dar aos boards subsídios que estimulem a visão de longo prazo, é fundamental que os conselheiros tenham acesso a novas matrizes de informações – para além de indicadores de desempenho. Isso é possível com a ampliação dos órgãos de suporte à governança, principalmente com a criação de Comitês de Inovação & Tecnologia.
Como me disse um grande amigo conselheiro há poucos dias: “Se a pauta da Inovação & Tecnologia for atribuição do Conselho, sem mecanismos apropriados, pode acabar caindo na vala comum”.
Neste sentido, os Comitês de Inovação & Tecnologia são vitais na salvaguarda da sustentabilidade e na orientação estratégica aos conselheiros frente ao tsunami de transformações digitais promovido pelas novas tecnologias exponenciais.
À medida que a tecnologia vai transformando o mercado, uma das maneiras mais efetivas para os Conselhos de Administração converterem a agenda tech em oportunidades de negócios é, justamente, a partir de comitês estratégicos.
Estes espaços devem reunir pessoas com viés e background de inovação e tecnologia para alimentar e provocar os boards com novos insights.
Entre tantos temas e obrigações estatutárias na agenda dos Conselhos, é importante um suporte com foco e expertise não apenas nos temas específicos da indústria, mas no próprio entendimento da dinâmica de inovação e das práticas de excelência.
No Brasil, essa abordagem vem ganhando eco no cenário corporativo
A redução no número de conselheiros e o aumento de núcleos especializados é um movimento que está sendo muito difundido no mercado de capitais brasileiro, apontou uma pesquisa realizada pela ZRG Partners, LLC em 2023. Enquanto o número de membros nos Conselhos se manteve relativamente estável nos últimos anos, a criação de novos comitês registrou alta de 29% no mesmo período.
Comitês de Investimentos, Riscos, Estratégia, Inovação e Tecnologia, Novos Negócios e ESG são predominantes entre empresas listadas na B3. Esse é um movimento relevante para equilibrar a gestão operacional diária com um olhar contínuo para o futuro e novos mercados, exercendo a tão conhecida ambidestria organizacional.
- Segundo o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, a opção pela instalação de um comitê estratégico parte da necessidade efetiva e objetiva na organização, da qual alguns fatores relativos ao negócio – como aumento de complexidade e escala, alteração do ambiente empresarial, mudança na dinâmica de concorrência, e a disrupção tecnológica – podem assim o exigir.
Mas, vale lembrar, que os comitês não têm poder de deliberação, mas estudam os assuntos de sua competência e preparam propostas para assessorar o Conselho.
No caso dos de Inovação e tecnologia, para serem peças-chave precisam ter um mandato bem estabelecido, combinado a um conjunto de perfis e competências não usuais nas outras instâncias da gestão e da governança.
Ou seja, seus membros precisam ter bagagem em inovação e novas tecnologias.
Enquanto faróis do futuro das empresas, os Conselhos devem se voltar cada vez mais para o monitoramento das principais tendências tecnológicas e se moldar rapidamente com inovações, tanto em seu portfólio quanto em novos processos e modelos de negócios.
Buscar uma nova matriz de informações e insights é essencial. Por isso, ampliar o número de Comitês de Inovação e tecnologia é tão importante!